quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Por favor, Deus, tenho apenas 17 anos

Por favor, Deus, tenho apenas 17 anos

No dia em que morri, era um dia normal de escola. Como desejaria agora ter tomado o ônibus... Mas eu estava muito apático para o ônibus. Recordo-me como persuadi mamãe a entregar-me o carro. “É um favor especial, implorei. Todos os garotos dirigem...” quando o sino das 14 horas e 50 minutos tocou, guardei todos os meus livros no armário: estava livre até 8h: 40m da noite seguinte. Corri em direção ao estacionamento, excitado pela idéia de dirigir em carro e ser o meu próprio chofer, livre... Não importa como o acidente ocorreu; eu estava zanzando indo em alta velocidade; arriscando-me doidamente. Mas eu estava desfrutando da minha liberdade e divertindo-me. A última coisa de que me recordo foi passar por uma velha senhora que parecia estar indo demasiadamente lenta. Ouvi um estrondo ensurdecedor e senti um horrível solavanco. Vidros e aços voaram por toda parte. Todo meu corpo parecia estar virando de dentro para fora. Eu ouvi o meu próprio grito... Subitamente acordei: tudo estava muito calmo. Um policial e
stava debruçado sobre mim. Então eu vi um médico. Meu corpo estava mutilado. Eu estava coberto de sangue e pedaços de vidro estavam enterrados por todo o meu corpo e, estranhamente, eu não sentia nada.

Ei, não cubra minha cabeça com esse lençol! Não posso estar morto: tenho apenas 17 anos! Tenho um compromisso esta noite. Tenho que crescer e levar uma vida maravilhosa. Ainda não vivi; não posso estar morto...

Mais tarde fui colocado numa gaveta. Meus pais tiveram que me identificar. Por que tive que encarar os olhos de minha mãe quando ela enfrentou a mais terrível provação de sua vida? De repente, papai parecia como um velho. Com voz embargada ele disse ao encarregado: - Sim, ele é meu filho... O enterro foi uma experiência estranha. Vi todos os meus parentes e amigos caminharem em direção ao caixão. Passavam, um a um, e me olhavam com o olhar que jamais havia visto. Alguns de meus companheiros estavam chorando. Algumas das moças tocavam a minha mão e se afastavam em lágrimas... Por favor,... Alguém... Acorde-me! Tirem-me daqui. Não suporto ver minha mãe e meu pai tão alquebrados. Meus avós estão tão angustiados que mal podem andar... Meu irmão e minhas irmãs parecem zumbis; movem-se como robôs. Ninguém pode acreditar no que vê e, eu, tampouco. Por favor, não me enterrem... Não posso estar morto... Ainda tenho que viver muito... Quero rir e correr novamente. Quero cantar e dançar. Por favor, não me ponha debaixo
da terra! Deus, que se me der mais uma oportunidade, serei o motorista mais prudente e cuidadoso do mundo. Tudo o que eu quero é mais uma oportunidade. Por favor, Deus, tenho apenas 17 anos!...

Cópia original adquirida no DETRAN-BH +/- em 1978.


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